Desabafo de Uma Geração – A História de Uma Millenial

 Em Textos

Você já se perguntou como é a vida de um Millenial? Millenial de plantão, temos uma história pra contar pra você.

Se houver empatia, não esqueça de compartilhar o que sente, a fim de que outros Millenial possam se conectar.

Assim como o latim permitiu o nascimento de outras línguas, como a língua portuguesa, a humanidade também se transforma e com mais rapidez que um idioma.

O texto de nossa colunista convidada, a Millenial Evelise Kowalczyk, pode ilustrar esse contexto de mudanças e o sentimento compartilhado por essa geração.

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(Resposta à entrevista de Simon Sinek por Tom Bilyeu, parte de um dos episódios de “Inside Quest”)

Hoje, alguém me disse que eu não conseguiria tudo. Que eu não poderia tudo. Pela simples impossibilidade da totalidade nela mesma: we can’t have it all.  Que devemos ter sido criados com alguma espécie de mimo desnecessário. Alguém repetindo que somos especiais e por repetir, acreditamos. E achamos que merecemos mais do que o devido.

 

Ouvi que usamos muito as redes sociais, que substituímos a dopamina de relacionamentos reais por dopamina liberada por “likes” e “friends”. Que não contamos com nossos amigos, que só nos divertimos com eles. Que somos depressivos em silêncio e felizes virtualmente. Que tivemos tudo virtual e muito instantaneamente. Que a vida foi muito fácil em vários aspectos, que não aprendemos a esperar pelas coisas.

 

Ouvi que o problema é agora das empresas, que precisam resolver o “problema” (o problema somos nós viu?) criado pelos nossos pais, ambiente, tecnologia e sabe lá mais o que.

 

Bom. Queria dizer que você nos enxerga com uma lente velha. Não é dizer que alguém está errado. Contudo, temos vieses próprios para cada uma das teorias de tudo que temos de diferente.

 

Posso não ter conseguido tudo. Mas pensar sempre muito alto me trouxe mais longe do que qualquer outro membro da minha família na minha idade, profissionalmente, até hoje. E se eu tivesse prestado atenção em alguém tentando cortar minhas asas, muito provavelmente não conseguiria.

 

Tudo que consegui pode não ser tudo que quero, mas me motiva e me enche de humildade e vontade de conseguir mais. Como pode isso ser tão errado? Sim, como quaisquer pais, meus pais me disseram que eu era especial. Mas também me fizeram estudar, até mesmo por saber que teria que me virar assim que me tornasse adulta. E escutar que sou especial até hoje do meu pai, e que ele confia e acredita em mim e que eu posso sim fazer mais pois ele sabe que não sou trivial, não é mera fonte de energia para meu ego. É energia para a vida. É amor puro e confiança entregue. Você me diz que eu não aprendi sobre confiança assim? E se eu quiser e alguém me der, qual o problema em ter sempre mais?

 

Quanto à redes sociais. Admito: podemos diminuir. Todos podemos. Contudo, volta e meia consigo emprego ou algum contato para facilitar a vida de parentes e amigos através delas. Também me mantenho próxima de amigos que estão longe e consigo ‘conviver’ com muito mais pessoas que amo. Estar isolado pode sim ser muito menos depressivo hoje em dia. E eu serei culpada por isso? Eu agradeço todo o tempo.

 

Sobre sermos depressivos: pra começar sou canceriana, é difícil dizer de quem seria a culpa do meu constante choro. Hahahaha. Ok, sobre depressão: como falar que hoje em dia há mais depressivos do que antes, quando ninguém se abria tanto assim? We’re overexposed, claro que estamos sujeitos. Somos jovens e a maioria deles acredita em regras sociais mais elásticas, mas afinal estaríamos na idade média se ninguém tivesse rompido paradigmas desde lá. Porquê afinal a nossa atitude towards life é tão péssima e nos entristece? Eu te digo: porque não nos contentamos. O que pode nos derrubar, mas também pode nos tirar da inércia. E muitas vezes tira.

 

Sim, eu tive mais acesso. Tive mais facilidade. Os cursos de inglês e espanhol que meus pais nunca puderam pagar, aprendi sozinha. A ponto de me perguntarem hoje onde os estudei, e ter parado em uma multinacional sem problema algum, falando inglês o dia inteiro com pessoas do mundo todo. Pense bem, vamos criticar toda a acessibilidade? Assim como eu, e com histórias de superação muito mais lindas e comoventes, existem centenas de jovens por aí. Basta parar de reclamar.

 

Afinal: talvez sejamos problemas nas nossas empresas. Talvez tentemos mais e muito mais chegar onde não se chegou. Mas com certeza todos deveriam saber que a diversidade é linda e se fossem todos iguais, as coisas estariam tão estagnadas. Se alguém não sugerisse diferente, não teríamos tanta inovação e coisas boas hoje em dia.

 

Quanto à conseguirmos nos manter felizes: cada um cuida da própria felicidade, desde quando o mundo é mundo, acho eu. Nunca tentei convencer meus pais a serem “acelerados”, simplesmente pois eles não funcionam assim. Podemos ter dificuldade em relacionamentos, podemos ter problemas em nos conectar, mas muitos de nós conhecem sim o amor. Conhecem a amizade e têm amigos com os quais criaram conexão “instantânea”: we feel the vibes, trust me. E desde os tempos de Jane Austen existiam pessoas infelizes e descontentes, então menos, por favor.

 

E nesse momento eu sinto que você poderia ter pensado com um pouco mais de empatia (essa que você insinua que não temos pois não cultivamos relacionamentos reais), ao invés de passar uma entrevista inteira me fazendo quase chorar de tristeza por me identificar com o que eu sou e linkar tudo isso apenas à coisas negativas. Como se fosse errado, como se todos não tivéssemos defeitos.O que uns chamam de desequilíbrio, outros podem ver como um novo tipo de equilíbrio. Se nós nos mantivermos em pé, qual o problema afinal?

 

Por fim, obrigada por me deixar mais forte.

Evelise Kowalczyk, Millenial.

Analista Financeira da ExxonMobil no Brasil

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